O que sou, se não lágrimas. Escorridas dos olhos que não vêem além do horizonte.
O que sou, se não o choro reprimido de uma criança que gosta de chorar.
O que sou, se não o riso da máscara caída, risonha e falsa a se declarar.
O que sou, se não a angústia, querida, abençoada que me faz sonhar.
O que sou, se não os sonhos que só sonho, sem ação, sem se materializar.
O que sou, se não os anseios de mudar o mundo, o meu mundo, egoísta, de ser e estar.
O que sou, se não um pontinho, minúsculo, vitimizado por uma realidade que não existe.
O que sou, se não dores de amores perfeitos, deixados a irem embora, sem ao menos lutar.
O que sou, se não o medo de não ter medo, da culpa, da dor, do desamor.
O que sou, se não a vontade de me maltratar, e depois chorar ao me vitimizar.
O que sou, se não o desejo, o apego de gozar a vida nos detalhes que ninguém desconfia.
O que sou, se não a verdade, de entender a clareza do que sou.
O que sou, se não uma gota, translúcida e perfeita. Salgada e molhada. Suada e folgosa. Doida a se espalhar. Pelos campos, pelos mares, pelos ares do meu ser. Pelos ares de outros seres. Pelos ares de Deus, da mãe, do pai do filho.
O que sou, se não uma palavra, vaga, vazia. Cheia.
O que sou, se não uma estrela, uma luz dentro de mim. Que nasce, renasce. Encontra, perde e se perde.
O que sou, se não um cérebro, ilusório e raivozo. Vingativo e choroso. Inteligente e amoroso. Rancoroso por si mesmo. Um cérebro sentado. Esperando a vida passar. Recebendo a vida passar.
O que sou, se não uma alma. Ansiosa por viver. O agora, o amor. A liberdade, o sabor. A alegria, divindade. Humanidade, raridade. Uma alma, d'álma. Dilma. Alma que nasce. Todos os dias. Bem mais hoje, é seu dia de nascimento. Nasce agora, de verdade. Nasce, alimento.
O que sou, se não Dilma Nascimento.